Entrei sozinha num desafio criado por mim mesma para poder ler mais autores portugueses.
Passo a explicar:
Dei por mim, um dia, frustrada com a pilha de livros que tinha na minha estante, ainda por ler.
Entre o momento em que os comprei até àquele momento de frustração parecia que tinha passado uma vida. A leitora que era no momento da compra já mal existia e precisava de ler algo diferente do que tudo aquilo que dormia (e ainda dorme) na minha estante.
E o que era afinal "tudo aquilo"? Quase tudo autores estrangeiros, na sua maioria anglo-saxonicos. De repente senti-me enjoada só de pensar que tinha que ler mais um livro em inglês ou traduzido. Precisava da minha língua, de ler em português escrito por portugueses.
Também já estava farta da qualidade, ou a aparente falta dela. Precisava de mais erudição, de prosas mais envolventes e cuidadas. Precisava de redescobrir o que por cá se considera bom. Assim começou a minha busca sobre o que ler. Estava perdida e por isso procurei em português o equivalente ao que é o prémio Pulitzer ou Booker.
Decidi ler todos os premiados com o "Grande Prémio de Romance e Novela APE/IPLB". A lista não era extensa, pois o primeiro prémio tinha sido atribuído ao "A Balada da Praia dos Cães" de José Cardoso Pires, em 1982.
Preparei a lista e comecei pelo fim: li o "Contra Mim" de Valter Hugo Mãe, vencedor de 2020. Foi um início arrebatador e fiquei enamorada. "Se todos forem assim, vou devorar a lista num instante." pensei, enquanto seguia para o primeiro da lista. "A Balada da Praia dos Cães" já não foi uma experiência positiva, assim como não foi "Os meninos de ouro" da Agustina Bessa-Luís. " Saltei por isso para o meio da lista e li "O vento assobiando nas gruas" de Lídia Jorge, no mesmo ano em que a autora voltou a arrebatar o prémio com o "A misericórdia". A experiência voltou a ser positiva. Ganhei ânimo.
"Amadeo" de Mário Cláudio tem apenas 125 páginas e parece que estou a lê-lo há anos. A lista diz-me que tenho mais dois livros dele no meu futuro.
Se fosse fácil não seria um desafio, mas há livros que são um verdadeiro ato de tortura. E depois há outros que são surpresas maravilhosas.
Para quem quiser ver a lista, pode copiá-la desta Google Sheet ou visualiza-la aqui. 😊