Águas vivas

Sep 21, 2024

Entre a serra e a costa as águas apresentam-se. E quem diria que iria parar à praia da Amália Rodrigues, às portas do Alentejo, no Brejão? A vida sempre nos conduz para lugares maravilhosos. No eclipse lunar de peixes, as águas vieram até mim, no sentido literal. As doces e as salgadas, numa mistura entre mar e mini cascatas.

Os temperos salpicados de rocha negra, verde, azul e dourado do areal. As mudanças de paisagem e de sabor a relembrar que nada é estático e tudo é movimento. E até a água tem as suas tonalidades, temperatura, ondas e sabor. A maré que enche e invade o areal, fazendo-nos apertar e de repente estarmos todos ao molhe. E lá vem a contração que nos encolhe para depois vazar e nos permitir relaxar por um tempo. E também desfrutar da cascata de água doce que se torna acessível em maré baixa.

E gosto de olhar para os símbolos, para a vida que sempre se manifesta, possamos nós observá-la, dar-nos conta e fazer legendas ao que vamos percecionando com estas lentes limitadas. Que possamos ir ampliando. E se fora vejo estas águas a derramarem-se aproveito para observar como vão as minhas águas salgadas, como se derramam elas ou se encolhem. Como me nutro com a água doce? Como me acolho com gentileza e permito que o doce se derrame no salgado?

Vou escoando memórias enraizadas, padrões e deformações que vêm à luz informar-me que ainda me condicionam na forma como me relaciono com a vida. Que ainda me conectam à escassez e à dor. E vem a vida manifestar-se na sua grandeza e sabedoria infinita com o Amor e a Abundância. E que belo símbolo, a Água que gera vida, que retém e recicla memórias, que purifica e lava a Alma.

E nos encontros sempre ganho a possibilidade do Encontro. E na praia da Amália, onde se ouve os sussurros do fado, da melancolia e a tristeza liberta pela Voz, lembrando que tudo tem espaço e lugar para ser apreciado e celebrado. As contrapartes das partes e a revelação de que tudo está ligado vibrando por cordas invisíveis que vão ressoando melodias que se repercutem por aí. E a vibração sente-se ainda que os nossos ouvidos apenas possam captar uma ínfima parte... imagino sons e canções que nos elevam e nos despertam amor e alegria. E mais do que imaginar, sinto no inaudível a grande recarga que sempre recebo quando estou junto da mãe natureza. Ainda que possa estar distraída, na conversa e pouco atenta à contemplação, ela sempre me bate à porta e arranja forma de entrar. Essa é a grande magia, só precisamos de estar. E se nos fizermos presentes estamos atentos e a possibilidade de nos darmos conta.

Chegou-me algures que hoje seria o dia da Gratidão e da Paz e recordo-me agora que chego ao fim deste texto. Curioso, pois tudo me liga a esse sentimento de apreciação e estar em harmonia com o que é e está, e isso é um estado de ser que no momento capto, e pode ser só este momento e respiro-o e aprecio.

Tudo está na sua perfeita ordem.

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