Corpo

Nov 14, 2024

Perante a força imponente da vida o corpo estremece. Sente também essa força. Do mar que bate nas rochas, e na imensidão em que te encontras nesse frente a frente, sem outras interferências e sem proteção. Sentes-te pequena.

E o corpo faz-se presente. É invadido por esta energia e a vibração sente-se em cada poro. Está mais atenta à conversa que o corpo lhe apresenta. Os palpitares, os tremores, as tensões que vão circulando nas diversas partes. Os sintomas que lhe vão pedindo atenção e maior cuidado.

Vai escutando e perguntando... "o que me queres?", "como te posso atender melhor?", observar, acompanhar e acolher o que vem. É também observar que às vezes dá medo de ir olhar, de não conseguir tomar conta, de não saber o que fazer... que ainda vem a tentativa de desviar a atenção para outra coisa para não ver. Se me distrair pode ser que passe, que não precise de fazer nada. E o corpo pede que me faça cargo, que lhe dê permissão para sentir tudo. Que pode, que tem a habilidade de gerir tudo. Só preciso de me fazer presente e confiar que saberei tomar conta de tudo o que se apresente. Não há como saber antes nem depois. E o truque é ficar.

Ficar com tudo. Dizer sim, acolher e pôr ordem no que precisa de ser ordenado. Posso soltar, desidentificar, acalmar, aliviar, relaxar no corpo. Ele segura, ele escoa, transforma, regenera. E às vezes dói enquanto regenera para que me dê conta das cargas e tensões que carrego, para que possa dar-me conta, aliviar, contribuir para relaxar e soltar. E como me agarro quando julgo, contraio, quando me fixo e resisto.

Tantas memórias carrega este corpo, quantas experiências, quanta música e sabedoria? Muitas cá andam há tantas gerações que trago como herança de padrões há muito repetidos. Aceder a elas para que me vá contando as histórias e as possa tomar, dignificar e soltar.

Em mim vive uma caixa de surpresas a que vou acedendo camada por camada, como um descascar de cebola, vou soltando véus, películas, soltando as águas, as armaduras para que o corpo se sinta mais confortável nos seus movimentos, na sua expressão.

Dentro acudo-me. Ouço-me e acedo uma sinceridade tão profunda, tão crua que só posso receber-me pela coragem de conseguir olhar. Isso é compaixão, é amparo. É aceitar que levo dentro tudo, tanto e pode acontecer tudo cá dentro.

Sou aceitável para mim. O meu corpo é aceitável. É o veículo que escolhi para vir aprender nesta escola terráquea, para sentir tudo.

E sentir é a ferramenta mais poderosa que possuo, ainda que intensa possa ser. É como uma dança criativa que movimenta todas as partes do corpo e intercala entre movimentos suaves, lentos e outros agitados, entre a terra e o céu, que mistura a quietude e o movimento. Às vezes dói, outras entusiasma. Aceitar os picos, regulá-los e permitir que sucedam.

O corpo sabe quando falar e quando calar. Aprendo a cada momento a escutá-lo, a fazer-lhe caso e a ser de acordo. Dou-me conta quão afinado é o corpo e quão desafinada a mente que interrompe e quebra o ciclo natural. E o silêncio torna-se uma exigência para que possa apoiar a afinação.

Enquanto tal não acontece de forma mais harmoniosa o corpo vai tentando entregar uma e outra vez em todas as tentativas possíveis as mensagens para que me afine.

E vou agradecendo cada mensagem, cada cuidado que me pede, cada stop, cada regeneração que vai acontecendo. Mesmo que me faça entrar em contacto com experiências difíceis. É que também essa é a aprendizagem. O corpo sempre destapa para chegar ao equilíbrio e à saúde. Não resistir-lhe e agradecer é amar-me mais um pouco, é receber-me no todo que sou. É validar-me e tomar-me como inteira.

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