Confia

Nov 07, 2024

Confia! Era a palavra de ordem que sempre lhe acompanhava. E vinha porque a dúvida arranjava forma de entrar.

É que se por uma lado queria comandar, queria assegurar-se de que estava tudo sob controle, como tomar conta do plano, como confortar-se com as certezas que jamais poderiam chegar.

Chegava a Caldas da Rainha. Havia um plano, uma agenda. Todavia não fazia a mínima ideia de como se iria manifestar. Vamos ver o pôr do sol ao mar, diz a amiga Dina. E ela feliz, não poderia esperar melhor boas vindas à cidade, ela que adorava o mar. Vamos lá cumprimentá-lo e dizer que cheguei.

Contudo, porém, não esperava que o mar lhe arrancasse tamanhas gargalhadas por lhe ter molhado a roupa toda e as sapatilhas. Quisera-a descalça. E haverá melhor forma de cumprimentar a terra a não ser pele com pele. E aí estava ela tocando com a sola do pé no corpo da mãe terra, sentindo o calor, o frio, as pedras, a textura, os diferentes pisos. Enraizando-se, dialogando subtilmente, com tanto que não tem como compreender e assimilar a não ser permitir que suceda. E olha para a foto que regista um momento, o congelamento de um fragmento no tempo. E recorda-se do vento, do frio nos pés, das pedras e ali estava ela abrindo os braços, sem ter consciência que afinal estava dançando ao som do vento e das ondas do mar que seguiam também a música. E a foto apesar de estática transporta tanto movimento, dança e poesia, enquanto o sol que a alumiava se preparava para dormir. Contrastes de luz e sombra.

E quanto maior a luz maior a sombra. E à medida que ia emergindo ela ia encontrando mais espaço dentro para dar calor, abraçar e iluminar, uma dança, sempre uma dança.

E ia desenleando os nós, desapertando os apertos, sabendo que sempre exisitiriam mais, sempre se seguiriam mais, e as revelações sempre se sucederiam como as marés, umas mais agitadas e outras mais calmas. Seria sempre acerca de como surfar na onda, como acolher todas as partes. Como desenvolver mais compaixão, como amar o desagradável, o desconfortável, como aceitar radicalmente tudo o que ia emergindo. Como alargar-se dentro, quebrar resistências, desobustruir o canal e confiar que por mais escuro e sombrio, sempre há caminho.

E confiar que leva dentro a sabedoria, a medicina, as respostas e o Poder de se reunir, amar, sonhar, criar e resolver. Soltar as dúvidas, regressar-se ao Poder e Autoridade que leva dentro. Calar as vozes da mente, o ruído, amparar-se no difícil e deitar por terra a importância externa. Que nada precisa fora para pertencer, pois pertence-se. Que o amor não precisa de ser provado, exigido, pedido ou oferecido por fora, e se vier ficará sempre aquém do amor maior que só tu poderás dar-te.

E só precisas de confiar porque a tua personalidade dúvida do que já é, e a mente intoxica-te de pensamentos, narrativas e quando dás por ti estás apegada às formas perenes. Quando tu Alma és eterna. E arranjas tantas formas de acordar-te, pelo corpo que sempre procura falar à espera que o escutes e conetes. E o coração sempre sussurra para que escutes e sigas o apelo. Sigo aprendendo a silenciar para escutar-me melhor.

Derrubando crenças, medos, inseguranças que me distanciam. E eu quero-me próxima, intima de mim. Que esgote as palavras que me ensurdecem para quando não houver nada possa estar plena, pois tudo levo dentro.

Se há algo a aprender é a desaprender todas as construções e montagens que fui construindo para sobreviver. Se foram úteis para chegar até aqui, há um momento que precisam de morrer para que eu possa seguir viva e sana. Que aprenda a matar as partes de mim que precisam morrer. E se parece dificil é porque também me ensinaram "não matarás". Hoje digo, não antes sem te agradecer pela utilidade, pela ajuda. E também deixar morrer é permitir que o sistema se renove. Que as células novas se reproduzam. Que os ciclos continuem a criar-se e a gerar-se como a própria vida.

E se o texto por magia se for e apagar como o anterior é porque há novas palavras por saírem e textos por serem criados. Se a mente reclama que terá de começar de novo e se há apego porque o outro texto estava fixe, relaxo e rendo-me mais um pouco.

Havia mais palavras por sair, talvez este novo texto venha mais renovado, sintetizado e todas as palavras que saíram precisaram do escoamento que tiveram. E confiar é largar o controlo. E a vida sábia arranja sempre as formas, os roteiros para mostrar que ainda que possas ter agenda, fazer o plano, tudo vais correr conforme o programa da vida. Por isso relaxa, rende-te, respira, para que possas estar mais serena e em paz com o fluxo. Nada para entender, tudo por sentir.

E assim se vai apanhando as rasteiras da mente, quando ela tenta intervir e como acalmá-la e aquietá-la, como não fazer-lhe caso, como esperar que a onda passe para depois escutar o silêncio entre as palavras. As trepidações, as sensações, o respirar. E ficar comigo. Venha o que vier escolher-me sempre mais e melhor.

Confia. E eu vou tomando e aceitando melhor esse confiar, mesmo se o mundo lá fora estive virado ao contrário, e eu caminhar numa direção e o mundo inteiro noutra. Sou soberana da minha vontade e sentir e se não aprendemos a tomar a nossa autoridade e poder é tempo já de nos regressarmos. Afinal somos criadores, sonhadores, poetas, pintores, artistas, curandeiros e a nossa própria medicina, como não nos tomarmos como tal. Vou recordando e tomando-me várias vezes ao dia como a melhor vitamina, suplemento para reforçar e fortalecer o meu sistema imunitário, emocional, mental e energético.

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