PT
Acabou de chegar, sentou-se naquele velho banco na frente da quadra. Depois de um tempo a viu passar, lá do outro lado, encostada a um pilar da arcada. Ficou contemplando-a com um sorriso estampado no rosto. Pôde ver cada detalhe de sua face. Nem parecia ter miopia.
Ficou inerte, apenas apreciando... Naquele momento percebeu que seu dia já tinha valido, só por ter estado ali sentado naquele velho banco. Mas, apesar disso, o dia não acabara. Voltou para a aula e se pegou viajando em pensamentos distantes e perto ao mesmo tempo, na verdade, do outro lado do colégio.
Apesar disso, só ter esperança de vê-la não era o suficiente para ela aparecer naquela janela... Voltou então para a aula. O menor dos pensamentos já o tomava uma atenção maior e voltava a sonhar. De alguns deles, ele tinha "insides" e começava a escrever seus versos em qualquer folha em branco do caderno, como alguém que acaba de pegar sua prova e, feito um louco, passa as fórmulas decoradas para a página.
Na manhã seguinte, quando se dirigia para o “seu” banco, uma surpresa: ele já havia sido ocupado. Ficou indignado. Como poderia alguém ocupar aquele lugar? Justo aquele... Por que não se sentaram nos vários outros que têm pelo colégio? Mas ele não pôde fazer nada, afinal, o banco é para qualquer um do colégio, apesar de tê-lo adotado como “seu” banco.
Foi para outro lugar. Encontrou com seu grupo de amigos na parte de baixo da arcada do corredor de seu ano. Ficaram surpresos e felizes de o ver por ali e não lá naquele banco, sozinho... Já estava bem entrosado na conversa, um pouco distraído, quando se virou e encostou na Arcada. Não tinha reparado a vista daquele lugar, e, no momento em que olhou para frente, lá estava ela - como um clichê romântico - encostada no mesmo lugar de sempre, de frente para ele e do outro lado do colégio. Distraiu-se com as aulas e com as conversas nos tempos vagos. Era o último dia antes das provas.
O fim de semana foi bem rápido, estudando para as provas da próxima semana. Primeira prova: língua portuguesa. Não foi difícil. Terminando a prova, desceu para o pátio e deu um tempo lá com uns amigos. Ela veio até ele. Passou rápido, com pressa, deu um abraço e foi embora. Foi triste. Não a sentiu. Não sentiu seu coração batendo, nem sua respiração, ou o calor do corpo junto ao seu.
A semana foi passando, em fragmentos, mas não precisou de mais que isso. Sexta feira, fim da primeira semana de provas, e ainda tinha mais uma semana pela frente. Porém esse era o melhor dia da semana, não por ser só uma sexta-feira, mas por ser também um dia de treino. Sempre aguardava ansioso pelos treinos. Era o dia que tinha para tirar todo o peso da semana das costas e ficar tranquilo de novo – e para o fim de uma semana cheia de provas a melhor coisa era treinar.
Pegou sua mochila já preparada, seus “headphones” e começou a caminhada. Chegando lá, foi direto para o vestiário colocar o dobok – roupa especial para lutar Taekwondo. Partiram todos da equipe para o tatame. Era dia de treino físico. Correu, pulou, chutou, socou, bateu, apanhou.
Terminou o treino e estava mais que exausto. Fez o mesmo percurso de volta para casa, mas não colocou os fones. Queria ficar só com a sensação de êxtase e exaustão que só um bom treino pode proporcionar.
Mais uma manhã. De volta ao colégio, ouvi-a dizer-lhe: “quem sabe, se você colocasse no papel, poderia dar uma bela história”. O sino tocou e não me despedi. Tentei voltar a sonhar, mas aquela imagem não mais vi. Fui até o corredor, encostei-me à porta e deixei a brisa que passava levar com ela o pesadelo de não ter aquele amor. Foi-se um sonho, para se criar uma história.
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EN
He just arrived, sat down on that old bench in front of the court. After a while he saw her pass by, on the other side, leaning against a pillar of the arcade. He stared at her with a smile on his face. He could see every detail of her face. She didn't even seem to be nearsighted.
He remained inert, just appreciating... At that moment he realized that his day had already been worthwhile, just by sitting there on that old bench. But, in spite of this, the day was not over. He returned to class and found himself traveling in thoughts that were both far away and close at the same time, in fact, on the other side of the school.
Nevertheless, just hoping to see her was not enough for her to appear in that window... Then he went back to class. The smallest of thoughts were already taking up more of his attention, and he went back to dreaming. From some of them he had "insides" and began to write his verses on any blank sheet of paper in his notebook, like someone who has just taken his exam and, like a madman, passes the memorized formulas onto the page.
The next morning, on his way to "his" bench, a surprise: it had already been occupied. He was indignant. How could anyone occupy that seat? Just the one... Why didn't they sit on the many others they have around the school? But there was nothing he could do, after all, the bench is for anyone in the school, although he had adopted it as "his" bench.
He went somewhere else. He met his group of friends at the bottom of the archway in the hallway of his year. They were surprised and happy to see him there and not on that bench by himself. He was already deep in conversation, a little distracted, when he turned around and pulled into the Archway. He hadn't noticed the view from that place, and the moment he looked ahead, there it was - like a romantic cliché - leaning in the same place as always, facing him and on the other side of the school. She was distracted by the classes and the conversations in her spare time. It was the last day before the exams.
The weekend went by very fast, studying for next week's exams. The first test: Portuguese. It was not difficult. When he finished the test, he went down to the courtyard and spent some time with some friends. She came to him. She walked by quickly, in a hurry, gave him a hug and left. It was sad. He didn't feel her. He didn't feel her heart beating, or her breath, or the warmth of her body next to his.
The week went by, in fragments, but it didn't need more than that. Friday was the end of the first week of exams, and he still had one more week to go. But this was the best day of the week, not only because it was a Friday, but also because it was a training day. I always looked forward to the training sessions. It was the day he had to take all the weight of the week off his back and be calm again - and for the end of a week full of tests the best thing was to train.
He took his backpack already prepared, his "headphones" and started his walk. Once there, he went straight to the locker room to put on his dobok - special clothes for Taekwondo fighting. Everyone from the team left for the tatami. It was a day of physical training. He ran, jumped, kicked, punched, hit, and caught.
He finished the training and was more than exhausted. He took the same route back home, but did not put on his headphones. He wanted to be alone with the feeling of ecstasy and exhaustion that only a good workout can provide.
Another morning. Back at school I heard her say to me, "who knows, if you put it down on paper, it could make a great story". The bell rang and I didn't say goodbye. I tried to dream again, but that image was no longer there. I went down the hall, leaned against the door and let the passing breeze take with it the nightmare of not having that love. A dream was gone, to create a story.