Há alguns anos, para uma apresentação em Retórica Jurídica, disciplina lecionada no meu curso de Licenciatura, nos foi solicitado desenvolver um texto e apresentá-lo diante da turma. Sempre gostei de me expressar através de papel e lápis, embora de longe seja uma Paulina Chiziane. Pensei muito e não pensei em nada. Não sabia sobre o que falar e falar era o meu maior problema. A ideia de ter que falar em público, algo que nunca me foi fácil fazer, tirava-me a paz.
Então, cem por cento inspirada pela leitura do momento: "O Poder da Vulnerabilidade" de Brené Brown, decidi escrever sobre vulnerabilidade. Pretendia partilhar com os juristas em formação um tema não jurídico mas que se leva para a vida toda.
Pus-me a reflectir e fiz umas notas, que depois de transformadas em texto, ficaram mais ou menos como se encontra abaixo.
Não é novidade que a existência do ser humano é garantida pelos seus órgãos vitais mas, concordamos e temos noção de que o Homem é movido por algo que vai para além dos seus órgãos vitais, embora seja processado por um deles, neste caso o cérebro, que são os sentimentos. Os sentimentos são o nosso motor, sejam eles positivos ou menos positivos.
Muitas vezes, para não dizer sempre, o nosso comportamento e modus operandi são ditados pelo que sentimos. Quando sentimos raiva, somos tendencialmente agressivos, quando sentimos amor, tendencialmente exalamos paz e leveza. É quase que como um mais um é igual a dois, embora haja muita ciência por detrás destes fenómenos. O Homem é uma máquina inteligente e complexa, devo assumir.
Busco com este pequeno prelúdio reflectir, agora, sobre um sentimento que considero relevante para reflexão, que muitas vezes classificamos como sendo um sentimento negativo e digno de repúdio: a vulnerabilidade.
Penso que a vulnerabilidade não é um sentimento bom e nem mau. Digamos que é um equilíbrio entre os dois.
Quase sempre, associamos a vulnerabilidade à fraqueza, tristeza, ao medo, ao fracasso, e a tantos outros sentimentos negativos. Como referi antes, repudiamos e fugimos da vulnerabilidade, não nos é socialmente permitido ser vulnerável emocionalmente. A verdade é que a vulnerabilidade emocional não é sinônimo de negatividade. É possível que esta seja fonte de sentimentos positivos, entre outros, o amor, a esperança e até coragem.
Mas porquê é que se diz que a vulnerabilidade emocional pode gerar sentimentos positivos ?
Como refere Brené Brown na sua obra "O Poder da Vulnerabilidade", cuja leitura lhe recomendo, "vulnerabilidade é incerteza, risco e exposição emocional''. Estar vulnerável é estar emocionalmente exposto e, nestes termos, correr riscos. Se uma pessoa está aberta e disposta a sentir e receber sentimentos, que a podem causar dor ou felicidade, ou seja, correr o risco de magoar-se por conta desta exposição, estamos diante de uma pessoa corajosa.
Ao contrário de se pensar assim, muitos de nós atribuímos más qualidades a quem se mostra emocionalmente exposto, a quem mostra a outrem o seu "verdadeiro eu", a quem não tem medo de viver e sentir, como resultado da noção negativa que se tem sobre a vulnerabilidade.
Vulnerabilidade pode ser coragem e não fraqueza como muitos de nós pensamos, e creio que este juízo erróneo que fazemos da vulnerabilidade atrai ainda mais sentimentos negativos. Passamos a sentir medo, vergonha, e nos impedimos de viver experiências que se podem revelar incríveis. Quando estamos vulneráveis rotulámo-nos a nós próprios com etiquetas negativas, entre outras: fraco, irresponsável, não talentoso, fracassado. Isto nos impede de ter boas sensações, ter sentimentos positivos e muitas vezes privar-nos de mergulhar em um mar de profundas descobertas e de crescimento, na medida em que, se alguém atribui a si próprio o rótulo "fraco" por se mostrar vulnerável, dificilmente irá pensar positivamente acerca de si, e irá, provavelmente, adicionar ao seu rótulo outros rótulos negativos. Não nos desconstruimos, ficamos na mesmice.
É por isto que acredito que a vulnerabilidade pode ser vista como um estado de coragem, uma arma valiosa para o autoconhecimento, e pensar deste modo irá contribuir para que, em situações que experimentamos sentimentos negativos, consigamos pensar positivamente e atrair para nós mesmos apenas pensamentos e sentimentos positivos porque já temos a ideia e convicção de que somos dignos de os sentir e que podemos superar os momentos desagradáveis, uma atitude que contribui para que tenhamos confiança, menos preocupações sobre o que se pode pensar sobre nós e paz de espírito.
Desejo que esta reflexão o leve a compreender este outro sentido de vulnerabilidade emocional e a encontrar o que é melhor para si, sem nunca descurar de ser emocionalmente inteligente em tudo o que fizer na sua vida.
J,