Português Cultural 006: Telefones - Tran ...

Português Cultural 006: Telefones - Transcrição e Recursos

May 05, 2024

Oi, pessoal!

Aqui está a transcrição não editada feita automatizadamente com programas. Preste atenção, porque existem inconsistências no texto. Na dúvida, vale o que foi falado.

Observe que as marcações de tempo não consideram a introdução. Então sempre adicione dois minutos ao tempo que está abaixo. Vai ser um número aproximado.

https://open.spotify.com/show/1vF8Rx1kwAI923x0Y8neo9

[00:00:00.000]

Eu acho que o que eu estou para contar aconteceu no ano de 1998 ou 1999 e é uma história pessoal. Aí talvez você se pergunte: Ai, Eli, por que é que eu quero saber uma história pessoal de você? Você não quer. Mas ela se mistura pouco com a história do telefone aqui no Brasil, que é o que a gente vai falar hoje. E naquele tempo, em 1998, em 1999, nós tínhamos os orelhões, que eram os telefones públicos que ficavam aqui no Brasil. Aliás, ele ganhava esse nome de orelhão porque ele tinha formato como se fosse uma orelha. O telefone público aqui no Brasil não era como essas cabines que nós vemos nos filmes do telefone público de outros países. Não, não. Ele era azul, ele tinha formato de orelha e você entrava debaixo dele para fazer a ligação. Era muito legal. Os orelhões, no meu tempo, funcionavam de duas formas. A primeira delas era com fichas. Você pegava uma ficha aqui é como se fosse uma moeda. E você coloca a moeda dentro do telefone, a ficha cai e faz o sinal para que você possa telefonar. Inclusive, é daí que vem a expressão em português, cair a ficha.

[00:01:33.120]

Quando a ficha cai, existe uma conexão. E quando a ficha cai para você, finalmente você entende algum conceito ou coisa diferente. Mas voltando para orelhão. Tinha a ficha e tinha o cartão. O cartão telefônico foi muito popular durante vários anos e tinha número específico, número X de créditos. Acho que era 10 créditos, 15 créditos, 20 créditos e 30 créditos. Eu não me lembro exatamente quais eram os valores, mas tinha esse tipo de cartão e as pessoas até colecionavam. Elas usavam todos os créditos dos cartões e depois guardavam dentro de pastas. Essas eram as duas maneiras mais oficiais, mais comuns, de usar os orelhões naquela época, mas tinha uma terceira maneira que não era muito boa, que era quando você faz ou fazia, naquela época, uma ligação a cobrar. Aqui no Brasil, a ligação a cobrar é quando eu ligo para você e eu ligo a cobrar, isso significa que você paga, porque a ligação é a cobrar da pessoa que recebe a chamada. Era de uma forma muito comum naquela época, porque nem todo mundo tinha dinheiro para comprar a ficha ou para comprar o cartão. Ou então você estava lá na conversa com a pessoa, conversa vai, conversa vem, e a ligação é cortada porque já não tinha mais crédito.

[00:03:20.150]

Era bem triste. Inclusive aqui no Brasil, se você ver isso, isso ainda existe, ligação a cobrar ainda existe. Mas você e aqui o verbo é discar, porque eu sou velho e eu usava ainda aqueles telefones que você... Ele tinha disco no telefone, você enfiava o dedo no número e rodava o disco. Então a gente usa essa palavra para telefonar por causa dos telefones antigos. A gente discava número. Hoje em dia, a gente já não disca, a gente pressiona o botão ou então a gente digita número. Mas para as pessoas mais velhas, elas vão usar o discar naturalmente. Você discava 90, 90 e o telefone que você queria chamar. O que aconteceu nessa época, em 1998? Estava eu e amigo meu, e nós fomos para telefone público. Nós pegamos o telefone, nós tiramos o telefone do gancho, colocamos no ouvido e discamos 90, 90, e depois escolhemos número ao acaso. Quando você faz algo ao acaso, é de uma maneira sem critério, por acidente, sem propósito específico. Acontece por acidente, na sorte, por acaso, ou ao acaso, na sorte. Inclusive, se você apostar na loteria, você pode escolher números específicos que tenham significado para você. Por exemplo, eu vou escolher esses números porque é o dia do aniversário de todos os membros da minha família.

[00:05:14.770]

Ou você pode escolher números ao acaso? Você diz: três, 12, 25, 36, 40, 60. São números ao acaso. Eu não tenho nenhum critério. O que nós estávamos fazendo naquela época era passar trote, que não é uma coisa legal. E quando eu digo legal, é nos dois sentidos. Não é divertido para as pessoas que recebem e é crime também quando você liga para a polícia. Mas eu não era otário de ligar para a polícia na época, então eu liguei para uma casa residencial. A pessoa que recebeu a ligação não ficou nada feliz com trote. Foi trote mais ou menos assim. Eu disse: Alô? A minha voz de criança na época, mas a pessoa acreditou. Alô, aqui é da companhia telefônica e eu gostaria de fazer teste com o senhor para ver se o seu telefone está funcionando bem, a sua linha telefônica. E aí o senhor disse: Tudo bem? E aí eu disse: Sopre o seu telefone três vezes. E ele... Ele soprou o telefone três vezes e eu disse: Que bafo podre! E desliguei o telefone, rindo com o meu amigo. A palavra que eu utilizei aqui, gente, foi bafo. Quando a gente fala que alguém tem bafo, ela tem mal álito.

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Às vezes, a gente até diz: Que bafo de cachorro! Ou Eu peço desculpas pela palavra negativa, mas a gente às vezes também fala que alguém está mastigando chiclete de merda. Mas aí é outra coisa. Voltando aqui para o que a gente estava falando, eu sei que eu passei esse trote no telefone público e o cara telefonou de volta. Eu não sabia, mas ele tinha identificador de chamadas. Ele me ameaçou de morte e passou na rua onde eu morava, de carro. Ele realmente identificou o número. Mas claro, ele nunca descobriu que fui eu e até hoje eu escapei sem problemas. Eu acho que na época, ele ficou mais irritado Não foi só com o trote, foi com o fato de eu fazer uma chamada a cobrar e fazer uma ligação interurbana, ou seja, para outra cidade ou até para outro estado, ou uma cidade de outro estado. E era uma coisa que os brasileiros tinham de fazer muito antigamente, que eram ligações interurbanas. Por exemplo, se você estivesse na cidade de Salvador e telefonasse para uma linha telefônica na cidade de Salvador, era uma ligação local. Agora, se você estivesse na cidade de Salvador e fizesse uma ligação para a cidade de Feira de Santana, aqui na Bahia, era uma ligação interurbana, era mais caro.

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E no Brasil existia, e ainda existe, sistema chamado de discagem direta à distância, ou DDD, do qual eu falei logo no começo desse no episodio, não agora na discussão, mas lá na introdução. Como eu disse, o DDD é sistema que foi implementado aqui no Brasil, mas eu acho que ele surgiu em 1958, se eu não me engano. E o que aconteceu é que alguns países, primeiro, tinham código de país para você fazer uma ligação internacional. Por exemplo, o código de área dos Estados Unidos é 1. O código de área do Brasil é 55. Então, se você estiver fora do Brasil e precisar ligar para o Brasil, você vai digitar mais, o símbolo de mais, 55, e o número local. Para esses códigos de área internacionais, nós damos o nome de: Discagem Direta Internacional, DDI, e o local: Discagem Direta à Distância. No Brasil, cada estado você tem código de área ou mais de depende do estado, do tamanho, e pelo código de área, você sabe mais ou menos a região de onde uma pessoa está telefonando. Aqui em Salvador, o código de área é 71 ou 71. Mas na Bahia, a gente tem outros códigos também.

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Eu acho que o 77 é da Bahia. Eu sei que no Ceará, meu estado de nascimento, existem dois códigos de área, 85 e 88. Então, 85 é a região da capital, 88, região do interior. Aí se você recebe telefonema assim, a gente olha às vezes e diz: Eu não conheço esse DDD, por que eu estou recebendo ligação disso? E eu disse que o cara lá ficou muito irritado com o trote, porque era DDD que eu tinha feito e ele ficou muito irritado porque custava muito, muito mesmo. Os créditos de que eu falei nos cartões telefônicos, eles eram consumidos mais rapidamente se você telefonasse ou fizesse DDD. A minha avó morava em São Paulo, minha mãe morava em Fortaleza, ou melhor dizendo, em outra cidade perto de Fortaleza, e cartão de 20 créditos, ele engolia o cartão de 20 créditos em três minutos. Era muito rápido. Então, a gente não fazia muita ligação. Hoje em dia, a coisa mudou completamente. A gente pode telefonar pelo celular e muitas operadoras telefônicas, e as operadoras são as empresas que fornecem o serviço telefônico. Aqui no Brasil, nós temos quatro grandes operadoras, que é a Oi, a Tinha, a Vivo e a Claro, mas é tudo ruim.

[00:11:25.820]

A questão aqui é você escolher quem é a menos pior. Mas mas elas geralmente oferecem planos de minutos para você telefonar DDD para outras operadoras, e entre a mesma operadora, a taxa é mais barata. Eu sei que a minha eu tenho 300 minutos, eu acho, para ligar, e eu não tenho amigos. E quando eu ligo para a minha família é muito rápido, então sobra minuto todo mês. E essa coisa do DDD realmente facilita muito para gente, que a gente sabe de onde é a ligação e a gente sabe se atende ou não. Inclusive nos meses mais recentes, a gente olha assim, recebeu uma ligação com DDD 31, que é da região de Minas Gerais, e a gente já sabe que não é para atender ou DDD 31 ou DDD 11. Isso muda periodicamente. E por que é que a gente já sabe que não é para atender? Eu já conto para você. Eu fui só molhar o bico, que eu estou falando demais, e aí eu bebi pouquinho d'água. Mas por que você normalmente não atende ligações do DDD 11 ou do DDD 31 quando você não conhece pessoas dessa área? Porque geralmente são ligações de telemarketing.

[00:12:59.450]

E E nessas ligações, geralmente, eles oferecem de tudo. Antigamente, realmente era muito mais comum receber ligações vendendo tudo. Era seguro de vida, plano dentário, conta em banco, telefone, cachorro. Eles vendiam tudo pelo telefone. E era realmente muito comum receber esse tipo de ligação. Você estava em casa, tinha uma linha telefônica, o que era raro para muitas famílias, porque telefone era caro, e de repente o telefone tocava e você atendia, esperando ser alguém importante da família. E aí a pessoa: Gostaria de falar com o proprietário da linha?. Geralmente, com sotaque mais forte. E dava uma raiva porque você queria falar com alguém, mas não queria falar com o agente de telemarketing. Muito chato. Hoje, a situação, como eu disse, é ruim porque você recebe recebem muitas ligações. E aqui no Brasil, a gente costuma receber muitas ligações indesejadas. Por causa da internet, a gente está chamando de spam, como o spam de e-mail, mas a gente também chama de ligação indesejada. Aqui no Brasil, brasileiro recebe, em média, 37,5 ligações indesejadas por mês. Isso dá mais de uma ligação por dia. Na minha experiência, eu recebo pelo menos cinco ligações por dia. Tem dia que está maluco, eu recebo 20 ligações.

[00:14:39.950]

Eu atendo e a pessoa diz: Dona Maria José? Eu digo: Nossa senhora, não, aqui não é Dona Maria José. Ah, mas você conhece uma Dona Maria José? Não, não conheço Dona Maria José. Eu estou para dizer dia quando telefonarem e disserem: Dona Maria José? Vamos dizer: Dona Maria José morreu. Liga para outra pessoa. Mas por quê? Porque eles têm telefone em cadastro, as pessoas compram muitos celulares, o telefone muda muito. Então o meu número de telefone já pertenceu, no passado, a uma senhora chamada Maria José, que espero que esteja em boa saúde, porque eu sempre digo que ela está morta. Mas esse número de 37 ligações em média é o mais alto aqui na América Latina. E foi aumento entre ano e outro de 81%. É muita ligação, gente. É muita ligação mesmo. Em geral, os brasileiros odeiam receber ligação de call center. Eles sempre têm a impressão de que uma ligação de call center está incomodando. Mas olha, eu vou dizer para você, quem trabalha em O call center também não gosta de ligar, não. Eu trabalhei em call center durante alguns meses da minha vida e era terrível, porque o sistema automatizado fazia ligações para as pessoas nas horas mais impróprias.

[00:16:14.830]

Era terrível. Os clientes às vezes perguntavam pelo meu sotaque: Onde é que você está? Aí eu dizia: Estou aqui em Salvador. E aí a pessoa: Mas você não é de Salvador, não? Não, eu sou de Ceará. E aí o cliente ficava eu estou puxando conversa, ou seja, o cliente ficava tentando conversar mais e eu tinha que vender. Aí eu não podía desligar na cara do cliente, mas também não podía vender O que ele não queria comprar era inferna. No geral, os trabalhos de call center aqui no Brasil são muito mal remunerados. A gente ganha salário mínimo ou pouquinho mais do que isso e trabalha geralmente numa escala de seis por um. Ou seja, você trabalha seis dias e tira folga em dia. E às vezes o seu chefe ou a sua chefe diz qual é o dia da sua folga ou às vezes você tem uma folga fixa. Mas aí é coisa do passado. Eu só sei que quem trabalha em call center, geralmente ou gosta do trabalho ou odeia. É difícil encontrar alguém que diga: Para mim, tanto faz, tanto fez. Se eu tiver trabalho, está bom. Se eu não tiver trabalho, está triste.

[00:17:44.160]

Mas tudo isso tem mudado muito, especialmente o fato de os brasileiros usarem aplicativos de mensagem instantânea. Esse é o nome oficial, aplicativo de mensagem instantânea, mas a gente chama de WhatsApp, que o WhatsApp é o programa, é o aplicativo mais popular aqui no Brasil. Quem não tem, vai ter. E quem vai ter, vai ter ou dois ou três. Eu mesmo tenho WhatsApp, apesar de eu não gostar muito de usar, mas eu tenho que ter WhatsApp porque todo mundo que eu conheço tem WhatsApp. Algumas pessoas têm Telegram, mas Telegram não é tão popular quanto o WhatsApp aqui no Brasil. Alguns dos aplicativos mais populares a gente tem aqui no Brasil são o Instagram, que o Instagram não é só uma rede social, você pode mandar mensagens diretas. O pessoal chama aqui de Inbox ou DM, do inglês, Direct Message. Você vai ver lá na internet, a pessoa diz assim: Eu te mandei uma DM no Insta. E aí você pode ficar: Nossa, o que é isso? Agora você sabe, eu te mandei uma DM, significa eu te mandei uma mensagem direta no Instagram. E também a gente às vezes diz: Dá uma olhada no teu Inbox Ou seja, olha nas mensagens que você recebeu.

[00:19:19.360]

Isso não tem no WhatsApp ou no WhatsApp, a gente normalmente só manda a mensagem, mas uma coisa chata aqui no Brasil, na minha opinião, é que os brasileiros eles, em geral, estão mais acostumados com a imediatez dessas comunicações por meio de aplicativos. Então, quando eles mandam uma mensagem, eles esperam receber uma resposta rápida. Você também tem que ter isso em mente quando falar com os brasileiros. Eles vão enviar uma mensagem para você, vão ver que você recebeu a mensagem. Se você tiver a confirmação de leitura ativada, eles vão ver que e vão dizer: ué, por que está me deixando no váculo? Inclusive é o que eu faço com muitas pessoas. Elas me enviam mensagem, eu respondo com o meu coração, mas não com o aplicativo. E me esqueço de enviar a mensagem. Então a pessoa vai e diz: por que você me deixa no váculo? E deixar alguém no váculo significa não entrar em contato com ela. Geralmente, depois ela entrar em contato com você. Isso pode ser por acidente, você se esquece da pessoa, ou porque você não quer falar com aquela pessoa, então você deixa ela no váculo. Não é legal, mas a gente às vezes precisa fazer isso.

[00:20:45.140]

E hoje, como eu disse, a gente falou de telefones aqui no Brasil, de telefonia. No geral, o brasileiro adora mandar mensagem de áudio no WhatsApp, odeia fazer ligação porque não é tão conveniente, e leve isso em conta quando falar com os brasileiros. Você tem acesso à transcrição desse episodio lá no site do By Mia Coffee. E se você fizer parte do programa de educação continuada, logo, logo, você vai receber também a transcrição completa, com os exercícios, notas adicionais e outras coisinhas mais. Agora, aguarde na linha enquanto transferimos a sua ligação.

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