Despertara num repente com a chamada da amiga. Primeiro sonolenta e impertinente, mas curiosa para ouvir as histórias que tinha para contar. E o suspense que fazia entre cada palavra àquela hora estavam a despertar-lhe impaciência. Conteve-se. Respirou e manteve-se curiosa, afinal era daí que vinha a irritação, queria a ação, o desfecho, mais do que os detalhes.
E à medida que se observava, relaxava e ria-se por dentro desta sua pressa e meninice. E seguiu para as histórias do livro que iniciara ontem e que tanto lhe estava a prender. A compulsão de querer saber… como é depois e depois… E isso trazia-lhe entusiasmo, vida para continuar mais uma página. Não sem nos entretantos ter de se dar pausas. A pausa para mudar o foco e tratar das tarefas mundanas e dedicar-lhe igual atenção e prazer. O pequeno almoço. E dava por si sentindo o brinde à vida.
A alegria de prestar atenção às sincronidades, aos detalhes…. que com a sua impaciência tanto lhe escapavam. Precisava de escrever para se sentir melhor e tantas vezes queria aprofundar esse sentir e essa relação… afinal era uma exploradora de si e do mundo. E quando menos esperava vinham respostas nas palavras dos outros, nas páginas de livros que vinham até si sem hora marcada.
“Porque a mão que traça as linhas reflete a alma de quem as escreve.”, in a Bruxa de Portbello*,de Paulo Coelho.
Talvez fosse revelando a sua alma através das palavras para se ir conhecendo melhor. E vinham de seguida as passagens, as frases que descortinavam o que ia dentro, como se lhe estivessem a fazer uma leitura às inquietações e descobertas. Ora toma lá uma nova visão para a tua impaciência:
“…estou sendo forçada à coisa mais difícil do mundo, desacelerar meus passos. Por que a paciência é tão importante?
— Porque ela nos faz prestar atenção.”, idem*, Paulo Coelho
Como não fazer um brinde à vida que lhe dava tudo o precisava, mesmo que não entendesse?! Deus encarregava-se de lhe fazer chegar sempre a encomenda perfeita, as palavras, pessoas, eventos. E nem tudo chegava em embrulhos bonitos e fofinhos.
E poder ter a coragem de ir desembrulhando os presentes e olhar era também Brindar a si.