Presença

Nov 25, 2024

Olhar-se é permitir ver tudo o que acontece, sem filtros. Quão presente digo que estou? E quanto me apanho nas distrações? A encher-me de coisas, de afazeres, de facilmente ser atraída para a novidade e perder o foco daquilo que era a prioridade, a tarefa. Reconhecer-me. Essa parte também sou eu, também mora em mim. E quer ser acolhida.

E quantas vezes dou por mim a querer arrancá-la, abafá-la, a criticá-la como uma imperfeição que não merece existir.

E o telefone toca...

Lá veio a distração que me fez sair da escrita e atender o outro. E como me apanho, facilmente a sair de mim e a correr para o outro. E receber o reconhecimento das palavras que me saem o quanto tocam e ficam a ressoar no outro. "A aflição de querer arrancar a dor faz-nos procurar pela solução mais rápida para a calar." E tudo o que entrego são expressões do que vivo dentro quer disso tenha ou não consciência.

E saio de um presente para receber outro presente. Olhares meus, sobre mim. O que me traduz e me regressa. E estar presente é estar inteira em cada momento, recebendo o que ele traz.

Em dois momentos distintos este texto é escrito, e se a primeira intenção trazia algo, o tempo fez evolucionar para outro estado distinto, que não há como defini-lo, apenas saboreá-lo.

Ela tinha feito um plano para hoje: escrever. Continuar no esboço que andava de volta à meses e lhe pedia disciplina, regularidade, atenção e ela demorava-se a atender. Distraia-se com tanto pelo caminho. E observava o quanto isso lhe trazia. Do desconforto por estar a falhar, por se distrair tanto e perder o tempo. E era importante apanhar a sua critica, exigente que queria estar no controlo e obediência e acolher a sua parte mais desvairada, solta e rebelde. Essa era a parte que mais lhe assustava. Perder as rédeas e as estribeiras, quanta irresponsabilidade a sua. Não precisava de a soltar mais, apenas acolher.

E fazer-se presente era dar-se conta desta dança que ocorria dentro, sem que isso a definisse. E escutar as dezenas de definições que a mente gostaria de rotular e observar sem lhe dar crédito. Vir para o lugar dentro que vê, que sabe e recebe todas as aventuras que a mente conjetura.

E ela gostava tanto de histórias que as tinha de mandar cá para fora. Não podia guardá-las só para si. Precisava esvaziar e refletir sobre elas com maior distanciamento. E escrever era uma solução que lhe servia.

E isso trazia-a à presença, ao foco. Era um diálogo interno que se ia traduzindo em palavras, sons, direção, caminho. E fazia-se presente. Ia aluminando o escondido e ordenando o caos.

O caos sempre pede arrumação. E as pausas permitiam-lhe dar-se conta do corpo, da respiração e de cada movimento. Ativavam-lhe a escuta.

Dar-se conta das distrações era também fazer-se presente.

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