Que tipo de mãe sou para mim mesma?
Encontro respostas à imagem e semelhança da mãe que recebi fora, do que foi sendo gravado no sistema interno sem que disso tenha assim tanta consciência. Vou-me apanhando nas rigidezes, no estático e dormente. No que escondo de mim e torno inacessível, nos abandonos, nas distrações do cuidar fora como entretenha para não me tornar prioridade. E a imagem de uma mãe autoritária, generala, controladora, aflita distancia-me dela como querendo rejeitar o que também me assiste e me torna parte. A seriedade que não me permite brincar e descontrair. Tudo isso reconheço e até à pouco tempo era a imagem que tinha desta parte minha que é mãe.
E tudo são perceções. E a realidade é tão subjetiva quanto as imagens e perceções que tenho dela. E essa é a minha noção de mundo. E desde há uns dias poucos atrás pude conectar com uma nova mãe dentro de mim. Que se move, dança e sente prazer e sensualidade nesses movimentos, que se sente atraída pela sua própria sensualidade. Afinal as mães podem ser sensuais, selvagens, sexuais e sensuais. E o dever e a responsabilidade pode ser leve, prazerosa, equilibrada entre o descanso e a atividade. E quanto mais está no corpo maior a sua criatividade e prazer. E o corpo é o veículo que lhe permite aceder, libertar e criar prazer.
A descoberta da mãe orgástica, ligada ao prazer, à dança, à criação, ao seu estado puro de estar sempre a gerar vida dentro de si, ligada ao sentir.
Essa visão da mater, mãe terrena, mãe natureza e mãe interna ampliava-lhe os sentidos de uma forma bem mais profunda e conectada com os diferentes ciclos que se querem vividos e sentidos, com tudo o que há para sentir. É que um corpo que descarrega a sua dor a seguir passa pelo estado de descompressão, relaxamento e calma. E cada tensão culmina num êxtase que converge no seu pólo oposto. E a energia sempre pede movimento e contraste.
Nada a excluir e tudo por ver, incluir e respirar.
E ela ia permitindo receber-se de novos lugares, nunca antes imaginados e vividos. Receber o difícil com tudo o que implica, os gritos, as recusas, os ainda não, os não sei, os não consigo e que há espaço e tempo para tudo. Ser cada vez mais lugar seguro para mim é abrir espaço para permitir-me receber melhor com o que há.
E a descoberta desta nova mãe dentro de mim conecta-me a uma nova alegria e prazer. E deixa-me curiosa para querer descobrir mais.