Dei por mim a ser transbordada pelo caminho. A paisagem estava lá, mas num repente chamou-me para que entrasse nela. Vi-me invadida pelo campo amarelo, onde as flores apontavam para o sol.
Tinha de captar esta dança florida. Não há palavras para o que apenas pode ser contemplado. E aquilo que é oferecido não pode ser medido, apenas permanecer disponível e permitir que chegue, que entre. Foram breves instantes, não sei. O tempo sempre para ou permanece eterno, naquilo que deixa gravado dentro. As palavras sempre tentam apropriar-se na tentativa de descrever as sensações.
E também isso é belo para que regresse ao simples. Para que se relembre que é ali ao virar da esquina, no milésimo de segundo que tudo acontece, porque te fazes presente. É Deus a distrair-te para que de janelas e portas abertas possa entrar e penetrar-te. Assim de simples, ele falava-lhe de tantas maneiras e ela tantas vezes distraída e cega não o sabia receber e reconhecer.
No caminho de ida um francês parava-a no caminho, pedira-lhe um euro, e ela no instante disse que não, ele simpático agradeceu e seguiu caminho. E algo ficou a mexer dentro dela. Virou-se para trás depois de confirmar que tinha esse euro na carteira e misteriosamente o rapaz tinha desaparecido. Seguiu caminho. Sentiu que tinha de dar esse euro a alguém. E na praia a beber café quis oferecer também à amiga que recusou e pôs o euro na mesa. Só já de regresso a casa percebeu que esse euro ficou na mesa da esplanada. E na verdade a intenção ficou que esse euro possa ter sido entregue a quem dele estivesse a precisar. De alguma forma aquele francês foi um mensageiro. E escutei-o.
Nem tudo é para entender, nem tudo tem de ter um significado, razão ou propósito lógico e racional… momento a momento vêm sussurros entregues pelas gentes, pelo vento, pelos animais, por uma palavra que aparece na tela visual e de tantas e tantas formas, possa estar desperta para escutar e atender às chamadas.
Vou reparando e reparando-me. Encontrando-me nas palavras que entrego e que reverberam em mim. Vou recordando, despertando, acolhendo. Reconhecendo as palavras duras e perdoando. Reconhecendo as palavras meigas e tomando a ternura. E a auto compaixão vai fertilizando a terra, tornando-a mais macia e suave.
E recordo que amo flores, reconheço-as e elas sempre buscam a luz Sol ☀️