Contemplar

Jan 04, 2025

As águas sempre a chamam. Prefere a salgada, há qualquer coisa no mar que a chama, ou talvez o hábito de o ter mais a jeito e de lhe conhecer as histórias que vai contando, e isso faz com que o sinta mais próximo. Mas a doce da fonte, que corre pelas pedras, na serra, da montanha, fresca a correr tipo cascata também a convidam. A descalçar-se e a caminhar nela. A senti-la na pele.

A sua pele gostava do contacto com as águas. Que lhe purificassem e lavasse a alma. A criança que dentro vive rejubila-se. E isso é o fogo de vista, o que transparece para fora. E dentro não consegue traduzir o que lhe fica, o que vai com ela, dentro. O visível é o sabor do contraste do frio no corpo que a aquece por dentro. Uma sensação de limpeza.

É que o riso, o humor, a brincadeira é a melhor forma de elevar a energia, de aceder à alegria, ao entusiasmo. E ela era muito pouco elaborada, na simplicidade regozijava-se. E se o mundo cá fora estivesse a desmoronar e se dentro da mente complexa e preocupada achasse que nada tinha sentido, os momentos presentes devolviam-lhe a essência, o puro.

E tantas vezes se percorre caminhos longos, fora à procura do que está dentro à espera que reconheçamos, que saia a gargalhada, que nos apercebamos do prazer de respirar, de sentir o pé descalço na terra. De descobrir um trilho novo. E mesmo que volte a preocupação e a mente ruidosa a achar que nada faz sentido na vida atual que se leva, aquele precioso momento de presença ficou registado. E pede-te sempre atenção para que lhe regresses.

Andava com vontade de descobrir trilhos novos e a natureza estava a chamar-lhe. E só podia responder momento a momento, cumprindo e satisfazendo o pedido interno. É que nunca é só passeio que se faz fora, nem a paisagem, mas tudo o que os sentidos captam e te revelam.

Queria caminhar e o percurso fizera-se curto. A paisagem não tão bonita como o que esperava. E como lidar com a desilusão? Pois que vai à procura e encontra o atalho para a ribeira e de pé molhado delicia-se na água, faz a festa. Tudo lhe bastava, afinal era como estava a desfrutar do que tinha disponível. E a criança sedenta pede sempre por mais, quero mais... Poucos quilómetros feitos e ela queria caminhar, arranjamos soluções... vamos moças, vamos caminhar pela cidade que é perto. Um convite pouco apreciado, mas a firmeza e a vontade de me cumprir acabou por fazê-las ceder. E que bonito passeio pela cidade com o mercado ambulante, os legumes, as frutas e as pessoas no rodopio nas compras, esplanadas cheias, um dia de sol quente e também nós com direito a esplanada e desfrutar do ambiente até regressar.

E contemplei-me dentro na minha presença em relação com tudo. Com o respeito pela vontade e afirmá-la. Escutar os reflexos do estar melhor no conforto, no conhecido e o sabor da aventura, de permitir com curiosidade desbravar novos trilhos.

Adiar a recompensa do imediato, fácil e confiar que investir no que faz bem ainda que exija dedicação, disciplina traz um sabor a vitória.

E que alinhar-se consigo mesmo é seguir o fluxo orgânico daquilo que lhe sai momento a momento, é talento natural, confiar e confiar-se. Como a água que corre, contorna as pedras e vai mudando o ritmo e intensidade conforme os locais onde passa.

Observava, ia-se fazendo mais presente e contemplava-se.

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