Queria reconstruir os passos e ainda assim apanhava-se repetindo. Nunca é o mesmo passo, mas revisitava os mesmos lugares.
Apanhava-se desprevenida, onde lhe fugia o controlo despertada pelos sábios gatilhos.
Reagia que nem pólvora quando lhe faziam o contrário do pedido, quando invadida pelo que considerava exagero. Quando lhe trocavam as voltas e mais que tudo, o quanto abominava a sua parte aflita e explosiva que levava tudo à frente. A sua parte infantil reagia ferozmente, para a “próxima já não te peço nada”. E esse exagero manifestado fora era só a forma encontrada para definir os seus limites.
Seja feita a minha vontade e não a tua. O respeito por si implicava rejeitar tudo o que a sufocasse, encolhesse e diminuísse.
E nada era acerca do outro, mas de si. Da ausência de limites, do poder que dava ao exterior e do quanto não se tomava a si. E essa raiva precisava sair para que a ação viesse. E recebê-la como uma dádiva. Depois da calmaria conseguia receber-se melhor, abrir espaço dentro, não para arrancar partes, mas para incluí-las. Afinal “arrancar partes” de si era um tema conhecido e que só lhe trouxeram mais dor e mágoa. Era tempo de compaixão, e isso era fazer a paz dentro de si.
A frase mais apaziguadora dos últimos tempos que lhe abria espaço dentro: “Se meus demônios me abandonarem, temo que meus anjos desapareçam também”. Rilke
Dar permissão à coexistência da sombra e da luz, que tudo é necessário. E essa é também a beleza da condição humana. Tinha ideais nobres, desejava a cura no fundo de si, integrar, incluir, ser genuína e autêntica e sabia que isso implicava mergulhos dentro, que havia muito para descondicionar. Almejava a liberdade de ser, caminhar leve e amar, amar. E havia uma parte tão sonhadora, inocente que fora desvirginada. A vida sempre ajusta e pergunta… tens a certeza? E traz os testes, afinal pediste, puseste a intenção.
As experiências sempre vêm ajustar-nos e afirmar-nos e aquilo que almejamos é também a nossa maior ferida que se repete para encontrarmos novas soluções. É o Amor dentro a pedir para ser feito. É mais um mergulho a pedir auto-construção.
E ela que tinha tantos apontamentos, relia-se e sempre se admirava com o que saía de si, como se se escutasse pela primeira vez. E tudo era sempre mais simples.
Permitir que a emoção viesse, flutuasse e seguisse. Deixar-se tocar por si e deixar ecoar.